Com o aumento da temperatura global e o consequente degelo na Gronelândia, nos últimos dois anos 600 mil milhões de toneladas de gelo derreteram. Fiordes e ecossistemas costeiros têm sido amplamente afetados, apresentando desafios complexos para quem depende da pesca. Tais consequências climáticas têm provocado uma corrida internacional para exploração dos recursos sob o degelo e preocupam seriamente os ambientalistas, que exortam a União Europeia e os governos da Gronelândia e da Dinamarca, a protegerem o Ártico, ameaçado por projetos de mineração, petróleo e extração de gás natural, consequência de 70 licenças de exploração existentes.
A realidade das alterações climáticas continua a ser inconveniente
e, por isso mesmo, ignorada no que concerne à necessidade de eliminação dos gases
de efeito estufa e da mineração. Segundo ambientalistas, o Ártico necessita de
uma moratória imediata da mineração. Embora com certo grau de
autonomia, a Gronelândia continua sob grande influência dinamarquesa e tem
visto a exploração de matérias-primas, petróleo e gás, para as economias
ocidentais e chinesa, como forma de alcançar a independência económica e
destacarem-se da Dinamarca.
Contudo, os custos dessa independência são demasiado
altos, não apenas para a Gronelândia, mas para o resto do mundo. E, infelizmente,
esta é uma situação paradoxal, tendo em conta de que atualmente, a ilha já
enfrenta problemas ambientais derivados das atividades industriais e de
mineração, pelo que a abertura económica à Gronelândia apenas irá perpetuar o
problema.
Agricultura em crescimento, pelas piores razões.
O aumento da temperatura tem expandido a produção de safras existentes e embora a agricultura constitua uma pequena parte da economia da ilha, é um sector com potencial de crescimento, embora por motivos infaustos. Por outro lado, existe ainda uma parte da Gronelândia, na região sul, em que as culturas agrícolas são modernas e em que os rebanhos são de pastagem livre, fruto da inexistência da prática de propriedade privada. Não existe pagamento de rendas das terras em que vivem e as mesmas são controladas por “municipalidades”, o que permite aos agricultores tomarem decisões em conjunto, relativamente ao uso das terras.
A elevação da temperatura tem provocado, desta forma, grande
insegurança económica, ameaçando os meios de subsistência tradicionais, enraizados
na pesca e na caça de focas e baleias. E, por sua vez, a oportunidade de expansão
económica tem provocado uma intensa cisão cultural. Com a cultura e o propósito
geracional, ameaçados, a população tem já enfrentado graves impactos na saúde
mental.
É necessária uma reorganização das sociedades até 2050.
É nítida a incapacidade de evolução das sociedades e de sobrevivência das populações, por outros meios que não a exploração dos recursos naturais. Contudo, este vislumbre de autonomia financeira, assente numa economia de base mineral é altamente insustentável a nível económico, simplesmente porque para além de todas as consequências ambientais, os recursos são finitos. Mais do que exortar a União Europeia a cumprir os compromissos ambientais e a declarar o Ártico um santuário natural, faz-se necessária uma reflexão profunda sobre os nossos valores e sobre as nossas reais necessidades económicas, de forma a podermos reorganizar os nossos modos de vida. Com uma população mundial de 9,7 mil milhões em 2050, a vida como a conhecemos hoje, será absolutamente insustentável.
Fonte: European Enviroment Bureau
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